sábado, 30 de junho de 2012

Depoimentos - Elielton Cabeça


Cabeça em cena de "Lendas da Lagoa Encantada"
No ano de 2004, Tânia Barbosa me convidou para uma das experiências mais revolucionária de minha vida: Fazer parte de um espetáculo teatral da Cia. Boi da Cara Preta, núcleo infantil do Teatro Popular de Ilhéus (TPI). Naquele momento, eu não sabia, mas quando aceitei a proposta, não aceitava somente a um convite de trabalho, aceitava a condição de repensar e reestruturar o meu modo de fazer arte.

No TPI, fazer teatro, ao contrário do que se mostra, não é se vestir de outros personagens. É, além de tudo, despir o seu. É se expor sem medo, é conhecer com propriedade cada articulação de seu corpo para, num momento oportuno, poder gritar com todas elas as ideias em que acreditamos. É se libertar das amarras que outrora limitavam a forma de criar. E isso é uma possibilidade maravilhosa do fazer teatro.

De todas as artes, o teatro e a que permite de forma mais clara esse diálogo e compreensão. Está tudo posto, o banquete das artes, todas as a serviço de uma. E, dentre todas elas, a música tem a sua alegoria especial. De forma sutil ou exagerada, aguça as emoções, capaz de dar o tom , inverter sentimentos e até de estragar com tudo, presença marcante nunca passa despercebida.

De todas as trilhas que tive o prazer em compor, o resultado final de Lendas da Lagoa Encantada, sem dúvida é o mais satisfatório. Uma sereia de canto lírico, uma mula percussionista, um batera protagonista - pra não dizer perfeccionista - e um coro de meter inveja em qualquer coral norte americano, fez com que todo o esforço pra poder compor uma música que soasse suave aos ouvidos (afinal, o espetáculo é infanto-juvenil) se tornasse muito mais fácil. Na intensidade de suas batidas e na força de seus cantos, traziam para mim, mesmo que sem querer, a possibilidade de experimentar sem limitações.

Daí, a peleja entre o erudito e o popular, o maracatu para o povo celebrar suas festanças, e os batuques para as lendas saudar, tornaram-se sim, sons reais. Tive a sorte em lidar com um grupo de jovens, com fácil desenvoltura, sem vícios da estrada, e, de quebra, com bom gosto musical. Eu me fartei a transitar assim nos mais variados estilos: rock, xote, reggae, baião, ijexá, tudo o que compunha era possível executar. O que mais poderia querer? Ah, sim, claro! Um maestro conselheiro, de nome Antônio, por sinal, destaque para sua especialidade, ajuste da palavra na métrica.

Enfim, com toda poesia, leveza e contundência que o texto da Lagoa impõe, com todas as sagazes sacadas que a direção nos conduz e com toda a experimentação libertária musical. Fica carimbado mais uma vez, a marca do Teatro Popular de Ilhéus. Pau na máquina, a revolução vai começar!

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