quarta-feira, 22 de agosto de 2012

O TPI denunciando a corrupção


Quem assiste hoje a comédia “Teodorico Majestade, as últimas horas de um prefeito” ou “O Inspetor Geral”, ambos de Romualdo Lisboa, pode até considerar o Teatro Popular de Ilhéus um grupo ousado, expondo e criticando as mazelas políticas. 

Sim, o grupo é politicamente engajado e utiliza a arte como agente transformador e mobilizador. E, assim faz desde a sua estreia com “A estória engraçada e singela de Fuscão – o quase capão – e o cabo eleitoral”. 

Assim como “Teodorico”, “Fuscão” surgiu para provocar os eleitores sobre a responsabilidade de escolher os seus representantes nas urnas. A corrupção era exposta através dos atores cujos personagens eram inspirados nos gestuais dos bichos. As fofoqueiras eram como galinhas, os bêbados, cachorros. 

“Quando o problema é difícil de se resolver, é melhor chamar o deputado, ou melhor, o cabo eleitoral dele”. Assim era a descrição do espetáculo de rua, que era encenado em pontos de ônibus, nas periferias. A peça chegava onde o povo estava e, algumas vezes, de maneira inesperada. Certa vez, no bairro Teotônio Vilela, o público desavisado se revoltou com a cena e colocou os atores do recém-criado Teatro Popular de Ilhéus para correr embaixo de xingamentos e pedradas. 

“Que outro jeito não tem! Aí, até o telefone funciona! E a imbulânça vem logo-logo. Acontece, que o deputado tem mais imbulânça do que Valderico tem de ônibus”. Mas o povo de Oriocó, que não é besta nem nada, bota o cabo eleitoral para correr. 

Em 2004, após a morte de Équio Reis, Romualdo Lisboa remontou A estória engraçada e singela de Fuscão – o quase capão – e o cabo eleitoral” na Casa dos Artistas de Ilhéus. O espetáculo obteve da Fundação Cultural do Estado da Bahia o Prêmio de Estímulo à Montagem.

sábado, 30 de junho de 2012

Depoimentos - Elielton Cabeça


Cabeça em cena de "Lendas da Lagoa Encantada"
No ano de 2004, Tânia Barbosa me convidou para uma das experiências mais revolucionária de minha vida: Fazer parte de um espetáculo teatral da Cia. Boi da Cara Preta, núcleo infantil do Teatro Popular de Ilhéus (TPI). Naquele momento, eu não sabia, mas quando aceitei a proposta, não aceitava somente a um convite de trabalho, aceitava a condição de repensar e reestruturar o meu modo de fazer arte.

No TPI, fazer teatro, ao contrário do que se mostra, não é se vestir de outros personagens. É, além de tudo, despir o seu. É se expor sem medo, é conhecer com propriedade cada articulação de seu corpo para, num momento oportuno, poder gritar com todas elas as ideias em que acreditamos. É se libertar das amarras que outrora limitavam a forma de criar. E isso é uma possibilidade maravilhosa do fazer teatro.

De todas as artes, o teatro e a que permite de forma mais clara esse diálogo e compreensão. Está tudo posto, o banquete das artes, todas as a serviço de uma. E, dentre todas elas, a música tem a sua alegoria especial. De forma sutil ou exagerada, aguça as emoções, capaz de dar o tom , inverter sentimentos e até de estragar com tudo, presença marcante nunca passa despercebida.

De todas as trilhas que tive o prazer em compor, o resultado final de Lendas da Lagoa Encantada, sem dúvida é o mais satisfatório. Uma sereia de canto lírico, uma mula percussionista, um batera protagonista - pra não dizer perfeccionista - e um coro de meter inveja em qualquer coral norte americano, fez com que todo o esforço pra poder compor uma música que soasse suave aos ouvidos (afinal, o espetáculo é infanto-juvenil) se tornasse muito mais fácil. Na intensidade de suas batidas e na força de seus cantos, traziam para mim, mesmo que sem querer, a possibilidade de experimentar sem limitações.

Daí, a peleja entre o erudito e o popular, o maracatu para o povo celebrar suas festanças, e os batuques para as lendas saudar, tornaram-se sim, sons reais. Tive a sorte em lidar com um grupo de jovens, com fácil desenvoltura, sem vícios da estrada, e, de quebra, com bom gosto musical. Eu me fartei a transitar assim nos mais variados estilos: rock, xote, reggae, baião, ijexá, tudo o que compunha era possível executar. O que mais poderia querer? Ah, sim, claro! Um maestro conselheiro, de nome Antônio, por sinal, destaque para sua especialidade, ajuste da palavra na métrica.

Enfim, com toda poesia, leveza e contundência que o texto da Lagoa impõe, com todas as sagazes sacadas que a direção nos conduz e com toda a experimentação libertária musical. Fica carimbado mais uma vez, a marca do Teatro Popular de Ilhéus. Pau na máquina, a revolução vai começar!

TPI em pesquisas acadêmicas


Trechos da monografia de Joana Fialho Magalhães, A relação entre as  politicas  de cultura e de  turismo na cidade de Ilhéus.

Esse grupo foi criado, em 1995, por Équio Reis e após o seu falecimento está sendo coordenado por Romualdo Lisboa, que atualmente além de ser o diretor desse grupo teatral acumula a função de diretor da Casa dos Artistas.  O grupo do Teatro Popular de Ilhéus é responsável tanto pela produção dos seus espetáculos quanto pela administração, manutenção, atendimento e limpeza da Casa dos Artistas. Équio Reis, através do Teatro Popular de Ilhéus teve a iniciativa de desenvolver uma política cultural independentemente do município. Romualdo Lisboa explica “o TPI é uma ONG que tem uma política cultural voltada para viabilizar, implementar ações diretas nos bairros, nas comunidades, e fazer com que isso gere, o que a gente chama de movimento cultural”.

A Casa dos Artistas e o Teatro Popular de Ilhéus têm mobilizado a cena cultural ilheense. Équio Reis, fundador do Teatro Popular, foi também um dos fundadores do Teatro Vila Velha (TVV), em Salvador, que neste momento desenvolve propostas semelhantes, de exercício teatral com grupos de teatros residentes, e trabalha com temáticas sociais (a exemplo do Bando de Teatro Olodum).

As semelhanças entre o TPI e o TVV não são por acaso e não param por aí. Romualdo Lisboa está diretamente em contato com o diretor teatral Márcio Meirelles, e já fazem há algum tempo intercâmbio de suas produções.  

Referência:
MAGALHÃES, Joana Fialho. A relação entre as  politicas  de cultura e de  turismo na cidade de Ilhéus, 2003. Disponível em: www.facom.ufba.br/pex/joanafialho.doc

segunda-feira, 18 de junho de 2012

Via Sacra

Primeira apresentação de "A Via Sacra" - 1996

 O grupo nasceu com o propósito de fazer um teatro independente e que se aproximasse do povo. Com isso, em 1996 encena “A Via Sacra”, de Henri Ghéon, nas escadarias da Catedral de São Sebastião, centro de Ilhéus. 

2001
Na primeira apresentação, antes da missa, os atores, vestidos com trapos, ficavam ao longo da escadaria da igreja, interpretando mendigos. “As beatas subiam para a missa e olhavam com desprezo para aqueles maltrapilhos. Depois, quando viam que era teatro, a ficha caía. Ficavam sem graça”, relata Tânia Barbosa.

1997
“A Via Sacra” sempre era apresentada durante a Semana Santa, de sexta a domingo. A montagem contava as estações do flagelo de Jesus. Não havia protagonista. Os papéis eram revezados por cinco atores, vestidos com mantos de retalhos de veludo.

1997



Em 1997, o espetáculo ganha um cenário: uma estrutura de madeira com níveis que representavam as estações. No mesmo ano, circula por cinco bairros do município, alcançando um grande público.

Em 2001, Équio Reis faleceu na época dos ensaios e a direção do espetáculo foi assumida por Romualdo Lisboa, que o remontou mais três vezes: 2002, 2003 e 2004.

Última apresentação, em 2004
Em 2002, com uma roupagem mais ousada, conta com a participação do Grupo Arnes de Rapel Urbano, que preparou os atores para surpreenderem o público, saltando das colunas da Catedral. Os artistas também carregavam tochas fumegantes, dando ainda mais impacto visual à encenação.

 

terça-feira, 12 de junho de 2012

Terça a Três – a gênese do Teatro Popular de Ilhéus



Justino Vianna, Tereza Sá e Équio Reis - O Fiscal e a Fateira no "Terça a Três"

Em julho de 1995, a companhia Caras & Máscaras, em parceria com a Casa dos Artistas, realizaram o projeto Terça a Três. A proposta era a apresentação de espetáculos com dois atores em cena e um diretor.

Équio Reis aproveitou a oportunidade para observar o potencial de cada artista que subiu ao palco. Sua intenção era recrutar aqueles que atendiam ao perfil desejado para um futuro grupo de teatro independente no sul da Bahia, buscando os anseios das comunidades grapiúnas.

Tetê Sotero e Romualdo Lisboa dirigidos por Pedro Mattos no "Terça a Três" 
Após o projeto, Équio convocou aqueles em que viu potencial, promovendo uma série de encontros. Com ideais e atores amadurecidos, foi formado o Teatro Popular de Ilhéus.


A primeira formação do grupo foi composta pelos atores Romualdo Lisboa, Tânia Barbosa, Fábio Silva, Franklin Costa, Tereza Damásio, Adelson Costa e Val Kakau.

segunda-feira, 11 de junho de 2012

Nossa proposta


Depois de contar centenas de histórias, o Teatro Popular de Ilhéus abre espaço para registrar a sua própria história. Desde a sua criação, em 1995 por Équio Reis, o grupo mantém sua proposta de ser um mecanismo de transformação social através da cultura, visando à retomada da própria identidade cultural, além da pesquisa sobre o Teatro Épico de Bertolt Brecht. 

Este blog se propõe a registrar a trajetória do grupo, reunindo documentos, fotos, vídeos, depoimentos, entrevistas, tudo o que sirva para que pessoas relembrem ou conheçam o trabalho do Teatro Popular de Ilhéus.

Em todas suas montagens e intervenções artísticas nas comunidades, o Teatro Popular de Ilhéus imprime sua marca de independência, falando de política de forma simples e direta, convocando o povo a tomar seu lugar de protagonista enquanto agente social. 

Recorte de jornal sobre a primeira montagem de "Fuscão"
A estreia do grupo aconteceu com “A estória engraçada e singela de Fuscão – o quase capão – e o cabo eleitoral”, de Équio Reis. O mesmo espetáculo foi remontado em 2004, sob a direção de Romualdo Lisboa, através do Prêmio de Estímulo à Montagem de Teatro da Fundação Cultural do Estado da Bahia.